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Experiência EQM não comprova a existência de Jesus

  • 10 de out.
  • 5 min de leitura

A Experiência Quase morte é, cientificamente, um conjunto multidisciplinar que envolve análise psicológica, no contexto dissociativo como mecanismo diante traumas intensos, neurofisiológicas, nas alterações cerebrais durante hipercapnia e hipóxia e do lobo temporal, fenomenológica, das vivências simbólicas de morte e renascimento em contato com o Self, e cultural, dentro do contexto universal com imagens correspondentes ao repertório do indivíduo (cada civilização experimenta a própria simbologia: na Grécia seria a viagem da alma, no Egito a travessia do Duat, na Índia a ida ao Naraka, e assim por diante).


O termo original é NDE (Near-Death Experience), e foi criado em 1975 por Raymond A. Moody (médico), publicado no livro Life After Life - com sua análise de 150 casos de sobreviventes de acidentes, coma e paradas cardíacas.


Em 1983, Greyson Scale, desenvolveu um instrumento padronizado para mensurar os relatos de EQM, que posteriormente foi validado pela comunidade de psicometria científica (há diferença entre a científica e a mediúnica). Na modernidade, nos anos 2000, o fenômeno se tornou objeto de pesquisas empíricas, o Pim van Lommel, publicado na The Lancet, em 2001, analisou 344 probando que passaram por reanimação após parada cardíaca e apenas 18% desses relataram vivenciar uma EQM; existe também o estudo Sam Parnia, do AWARE Study, em 2014, onde apenas 2% relataram a experiência; as pesquisam sempre buscaram correspondência de atividade cerebral residual e a natureza da consciência.


Eugene d’Aquili, junto a outros colegas (Bruce Greyson, Andrew Newberg) observou na sua pesquisa "The Handbook of Near-Death Experiences", de 2009, que durante a EQM há ativações em algumas regiões do temporo-parietais no sistema límbicos, em resumo, campo associado às emoções, memórias e imagens, o cérebro no estado entre colapso e consciência recria a realidade simbólica imagético disponível na memória cultural o que é a matéria prima da experiência transcendental, o autor pontua que “A mente não produz o vazio; ela recria o transcendente a partir do que já contém”.


O contexto em que tais experiências ocorrem provocam atividades transformadoras pelo significado inconsciente que alcançam, na grande maioria das vezes sendo associadas a experiências místicas x religiosas, através da morte iminente através de colapsos fisiológicos e disfunções cerebrais e corporais em decorrência da causa, o que, por sua vez, ocasiona episódios de consciência anômala justamente pela "ameaça" física extrema que causa a sensação de separação do corpo e revisão da vida (a tal travessia pelo túnel e encontros com figuras luminosas).


As experiências que trazem relatos de experiências cristãs (suposto contato com Jesus, Maria, anjos e afins) se dá pela assimilação ocidental dentro do que foi absorvido simbolicamente, dificilmente uma pessoa ocidental terá contato, por exemplo, como uma simbologia dos Rapa Nui, Minoicos, Anasazi Cártagos ou Astecas, assim como comunidades antigas tibetanas ou sentineleses não vão experenciar um contato com Jesus.


Os relatos mais antigos de EQM estão nos Livros dos Mortos, 1550 a.C., e no Katha Upanishad, 380 a.C., que não há o menor comparativo aos relatos crísticos. Platão, em A República, de 380 a.C., descreve a experiência EQM do soldado Er, que foi morto em uma batalha, deslumbrou o céu e "retornou" após dez dias sem decomposição natural e este relata o juízo das almas após a passagem (quem adquiriu o "Seria o cristianismo o maior plágio da história do mundo?" sabe muitíssimo bem sobre absorção de mitos que o cristianismo fez).


O comparativo histórico através de datas e arquivos acessíveis analisados criteriosamente comprovam que o conteúdo de uma EQM é correlacionada ao repertório simbólico disponível pela estrutura psíquica que as produz. Partindo para uma perspectiva analítica, Jung ao ter sua própria EQM, relata (Memórias, Sonhos, Reflexões) que as imagens simbólicas emergem de um campo arquetípico moldado pela cultura vigente, ou seja, a psique individual acessa os conteúdos do inconsciente coletivo através da linguagem simbólica disponível na consciência cultural, em Psicologia e Religião ele descreve que “O inconsciente coletivo se expressa em imagens que o consciente é capaz de compreender. Por isso, elas variam conforme o tempo, o meio e o sistema simbólico dominante”.


Por isso que as experiências quase morte do Antigo Egito reproduzia imagens do Duat, da pesagem da alma, da barca solar, enquanto na Antiga Grécia se reproduzia as imagens do campo luminoso da alma e a escolha do próximo destino.


Mircea Eliade, em O Sagrado e o Profano, fala sobre as experiências liminares estarem diretamente conectadas com a estrutura universal, embasadas pelos mitos locais, ou seja, o sujeito vive a morte e o renascimento e o interpreta de acordo com o mito da sua própria cultura. Ela pontua que “Não há experiência do sagrado fora de uma forma cultural. O mito confere linguagem à experiência inefável”.


A sensação de estar fora do corpo e visualizá-lo é um fenômeno conhecido cientificamente como "veridical out-of-body perception", onde o corpo ainda mantém a captação auditiva e sensorial do ambiente em que o paciente está inserido, como no caso hospitalar onde o indivíduo pode relatar com precisão as manobras realizadas, instrumentos utilizados, conversação da equipe. Isso porque há hiperatividade residual cortical, mesmo depois da parada cardíaca, que faz descargas sincronizadas no córtex, chamadas de padrão gama - consciência intensa.


Portanto, as visões contempladas nas experiências quase morte são na verdade reprodução de conteúdos conscientes e inconscientes, não sendo comprobatórios de contatos espirituais superiores ou inferiores, tão pouco garantias preditivas. É bem comum que as previsões trazidas do pós morte costumam ser genéricas como, por exemplo, "o futuro não é engessado, as ações moldaram o futuro" (que é um tanto óbvio), ou "haverão catástrofes naturais e guerras" (que faz parte do ciclo de avanços culturais há séculos).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Moody, Raymond. Life After Life. Mockingbird Books, 1975.

Moody, Raymond A. Life After Life. Atlanta: Mockingbird Books, 1975.

Greyson, Bruce. The Handbook of Near-Death Experiences: Thirty Years of Investigation. Praeger, 2009.

Greyson, Bruce. “The Near-Death Experience Scale: Construction, Reliability, and Validity.” Journal of Nervous and Mental Disease, 171(6), 1983.

Van Lommel, Pim. Consciousness Beyond Life. HarperCollins, 2010.

Van Lommel, Pim. “Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands.” The Lancet, 358(9298), 2001.

Cardeña, Etzel et al. (eds.). Varieties of Anomalous Experience: Examining the Scientific Evidence. American Psychological Association, 2014.

Jung, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Vozes, 2017.

Jung, C. G. Psychology and Religion: West and East. Princeton University Press, 1969.

Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. Martins Fontes, 1992.

Campbell, Joseph. O Herói de Mil Faces. Pensamento, 2007.

D’Aquili, Eugene; Newberg, Andrew. The Mystical Mind: Probing the Biology of Religious Experience. Fortress Press, 1999.

D’Aquili, Eugene; Newberg, Andrew. The Mystical Mind. Minneapolis: Fortress Press, 1999.

Parnia, Sam et al. “AWARE—AWAreness during REsuscitation Study.” Resuscitation, 85(12), 2014.

Ring, Kenneth. Life at Death: A Scientific Investigation of the Near-Death Experience. New York: Coward, McCann & Geoghegan, 1980.

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